Ao resolver ir pra Bonito, atente para dois itens: planejamento e despesas. Devido a fragilidade do ecossistema da região, todos os atrativos possuem planos de manejo turístico e os levam a sério. Horário, condições climáticas e limite do número de visitações diárias são fatores que podem frustar os incautos viajantes que resolvem chegar na cidade "na louca" para um passeio de fim-de-semana. Demos sorte de ser meio de semana e estar numa época de entre-temporadas, onde a cidade não estava tão cheia e logo na chegada fomos avisados sobre as limitações e encaminhados a uma agência de turismo para agendar as visitações, que é feita de maneira centralizada pra facilitar o controle da demanda.

Na hora da reserva, apresenta-se o segundo item digno de atenção. Como praticamente todos os atrativos ocorrem em áreas particulares e a demanda vem crescendo a cada ano, salgadas taxas de entrada são cobradas, sem contar os passeios que necessitam de equipamentos especiais, como os que envolvem rapel ou flutuação. Pra completar o prejuízo, a não ser que a pessoa conheça muito bem a região, recomenda-se que se faça a reserva de um táxi, em média R$140 por veículo por dia. E um dia é muito pouco pra tanta coisa bonita a conhecer.

Devido a nossa limitação de tempo e dinheiro, montamos um pacote de visitação de um só dia tentando equilibrar qualidade (segundo sugestões) e preço. Resultou-se uma configuração de 3 passeios para duas pessoas: Gruta de São Miguel, Gruta do Lago Azul e flutuação no Rio Sucuri a R$250+ por cabeça. Pra nossa sorte o clima ajudou demais e completamos o roteiro perdendo apenas o almoço (que estava incluído no pacote e acabou por ser descontado do valor final) por causa do atraso na visitação do lago.

Na gruta de São Miguel impressionou a estrutura de assistência ao turista. Aguardamos o momento do passeio numa sede muito bonita, de estilo rústico e onde um vídeo é mostrado introduzindo as belezas da região. Após sua exibição, uma trilha suspensa nos leva a um mirante no meio da floresta e logo a entrada principal, onde uma senhora nos lembra sobre a preocupação com a segurança por meio de uma escorregada feia próximo a outro mirante.

O passeio dentro da gruta passa quase sem sustos, com oportunidades pra visualizar pérolas (embrião de estalagmite), brócolis (coral mineral) e guano (dejetos de morcegos), além das curiosas formações que a natureza costuma esculpir nesses lugares. Subscreva-se que em um momento de tontura devido a tentativa do uso da apnéia pra melhorar uma foto com pouca luminosidade, acabei por meter a máquina fotográfica num corrimão, deteriorando ainda mais a situação de nosso principal equipamento de registro das viagens. A sequela desse impacto pode ser percebida em algumas fotos que aparecem sombreadas ao lado esquerdo devido ao desalinhamento da objetiva. Fora isso, nossa máquina guerreira continuou funcionando bem, até servindo pra registrar o passeio - com certa emoção e guiado pelo sobrinho do Jack Black - de carrinho elétrico que leva o visitante de volta a sede.

A segunda visita seria a Gruta do Lago Azul. Após quase meia hora seguindo por caminhos secundários chegamos ao local onde as pessoas são agrupadas e aguardam o momento para iniciar os quase 300 metros de descida até a proximidade do lago. Um aviso aos cardíacos, essa descida é íngreme, extensa e com poucos apoios. Um condicionamento físico razoável e calçados com solas anti-derrapantes são imprescindíveis. Chegando ao fundo a falta do sol até tentou atrapalhar, mas não conseguiu esconder a beleza do lago, onde um efeito de ótica deslumbra um azul fantástico e estalactites moldadas pela simbiose com algas compõe um ambiente ainda mais surreal.

Após constatar que almoçar seria inviável devido ao horário, rumamos direto para o terceiro passeio, dentro da fazenda do Grupo Geraldo Magella, cuja principal fonte de renda é a engorda de gado e onde fica uma área privada de preservação que abriga a nascente do Rio Sucuri, daonde literalmente brotam da terra águas límpidas e extremamente cristalinas (60m de visibilidade, segundo o guia). Para minimizar o impacto ambiental é proibido o uso de loções antes do passeio e todos usam uma roupa de neoprene (também para proteger do frio). A experiência da flutuação talvez pudesse ser descrita como "um vôo livre rasteiro e lento", mas ainda assim seria desnecessariamente simplístico. Curimbas, carangueijos, cardumes de piraputangas, caveiras de boi e até mesmo pérolas são exemplos das visualizações que se tem no lugar. Simplesmente fantástica! Faltou somente uma câmera digital resistente a água pra aproveitar 100% do passeio.

Na volta a Bonito, encontramos o Rafael, colega motociclista que com sua Kasinski Mirage tentava chegar em Titicaca, nos Andes. Marcamos um encontro mais tarde pra saborear uma isca de jacaré e trocar experiências de viagem, daonde saíram várias pérolas motociclisticas, com destaque para a seguinte.

Existem três tipos de motos: as que te levam rápido, as que te levam longe e as que te levam a qualquer lugar.

Concordando com nosso colega, desejamos boa sorte e fomos descansar para no próximo dia chegar em Campo Grande. Estrada repetida, sem maiores surpresas, somente o acesso indo de Nioaque a Sidrolândia que é um pouco confuso por causa da sinalização. Aproveitamos mais uma vez pra visitar a Casa do Pão de Queijo e partir em rumo a capital do pantanal sul. Chegando lá, antes de procurar o albergue, cumprimos uma missão importantíssima, que era buscar nossos filtros de ar despachados pelo amigo Hudson ao serviço de Posta Restante da agência central dos correios. Com os filtros na mão, aumentava ainda mais a certeza de que nossas máquinas nos levariam tranquilamente aos destinos restantes de nossa viagem pelo Brasil.

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