Uma cidade moderna e organizada, foi a impressão que tivemos de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Com uma limpeza impecável, comparado aos demais centros urbanos brasileiros, a cidade se destaca também pelas largas ruas e avenidas.

O albergue da rede Hi Hostel também é peculiar. Localizado ao lado da rodoviária, conta com suítes individuais a preços praticados pelos demais albergues para um quarto coletivo. A piscina foi uma atração à parte, que além de ser um agradável espaço social, serviu de palco para fantásticos causos pantaneiros que contarei mais adiante.

Após estabelecidos no albergue, uma saída para conhecer a vida noturna desta cidade que nos deu uma tão bela primeira impressão. A principal avenida da cidade, chamada Afonso Pena, é a sede do agito onde se localizam bares e restaurantes. Curiosamente, Afonso Pena é também o nome da principal avenida de Belo Horizonte, minha cidade natal.

Decidimos procurar por comidas típicas locais no dia seguinte e matar saudade de uma boa refeição à moda oriental. Em um restaurante japonês pedimos sushi e sobá. Sem querer nos deparamos com um dos pratos mais tradicionais de Campo Grande. O sobá foi introduzido ao cotidiano campo-grandense por imigrantes japoneses e hoje é oficialmente um prato típico da culinária local, fato que fomos constatar no dia seguinte, ao visitar a Feira Livre (na antiga estação ferroviária), que conta com mais de vinte barracas especializadas neste prato.

Começando o novo dia, levamos as motos para uma rápida revisão (e troca do filtro de ar) na concorrida autorizada Honda local. Depois, um merecido banho para as duas meninas no lava-jato do Gaúcho (que na verdade é catarinense), cuja a equipe fez um belo trabalho. Até então a coloração da moto era irreconhecível, tampouco as peças cromadas estavam visíveis.

À tarde, um programa bem de turista, um city tour em um ônibus de dois andares. Durante o trajeto ao som de Almir Sater, um pouco da história local, desde sua fundação (por um mineiro, diga-se passagem) chegando aos dados atuais, como o fato da cidade não ter favelas e um centro de amparo às pessoas que tentam a sorte na capital, dentre outras curiosidades. O ônibus parou em um enorme parque onde situa-se o Museu Dom Bosco, cujo acervo conta a história dos nativos daquela região. Excelente estrutura, a coleção exposta rendeu ao museu o óbvio apelido de Museu do Índio, como é mais conhecido. Curiosamente, durante todo o percurso do ônibus, éramos saudados pelos locais com acenos de mão, gritos e buzinadas. Andar neste tipo de ônibus turístico é uma experiência que faz sentir você se sentir um alien. :-P

Mal sabíamos que a verdadeira aula de história estava por vir, quando nos deparamos com dois verdadeiros pantaneiros no albergue:

  • O primeiro, um senhor que trabalha como guia nos passeios turísticos pelo pantanal. O Seu Adão nos contou segredos sobre os animais que ali vivem, bem como uma técnica de como se defender de um ataque de sucuri. Esta cobra é tida como um animal manso, que como a maioria, só ataca se acuado. Caso mordido, faça cócegas na serpente que ela o soltará. Nunca puxe a cobra, pois pode lhe rasgar a pele devido aos dentes da serpente serem em formato de serra. Espero nunca ter que por em prática esta artimanha. Soubemos por ele que a lendária "Boca-de-Sapo" se trata da jararaca, o mais perigoso animal peçonhento do pantanal.

  • Já o Seu Moura, fazendeiro que já guiou muita boiada por terras alagadas, nos deu uma lição de patriotismo contando a sua visão sobre a Guerra do Paraguai, esclarecendo alguns pontos que pra mim eram obscuros e exaltando a bravura de nossos combatentes. Esta guerra é um assunto muito delicado, especialmente para os paraguaios. Linda é a canção Sonhos Guaranis de Almir Sater que retrata este triste episódio de nossa história.

De todo este papo, surgiu também a vontade de cortar de moto a Transpantaneira, que novamente me leva a namorar uma moto big trail.

Satisfeitos com nossa passagem por Campo Grande, saímos cedo rumo a Goiânia/GO via Camapuã/MS, Chapadão do Sul/MS, Cassilândia/MS. Resolvemos não seguir por São José do Rio Preto/SP cujo o caminho seria mais longo, porém com estradas melhores, na esperança de economizar tempo.

Neste caminho encontramos novamente vários animais mortos, até uma capivara inchada. O primeiro animal vivo que encontramos andando no asfalto também foi nesta estrada: um tatu que o Milton tirou uma fina. Resolvemos voltar para tirar uma foto e tocar o animal da rodovia, mas ele já tinha literalmente "cascado no cerrado".

Atravessar a fronteira em Cassilândia/MT foi algo complicado. A rodovia se funde com a cidade e lá se transforma em ruelas. Um nativo com sintomas de embriaguez prontamente nos indicou o caminho errado, nos tomando 40 minutos de viagem. O Milton ainda passou o primeiro aperto derrapando em umas pedrinhas que antecediam um quebra-mola mal sinalizado e batendo de lado no mesmo. De camarote, testemunhei a agilidade do colega que bateu o pé no chão e segurou a moto. Voltando à estaca zero, pedimos informações desta vez à um sujeito que tirava uma Marauder da garagem para o passeio vespertino com a esposa.

A moto do Milton pareceu gostar tando do Mato Grosso do Sul que teimava em sair. Durante o trecho, começou a falhar e até a desligar por completo. Identificamos o problema como sendo um parafuso que soltou da chave de ignição no guidão. Parafusos diversos também soltavam da minha moto devido a trepidação. Em um posto de gasolina, com sorte, achamos peças e resolvemos o problema.

Depois de todo o stress, somado a estrada que após Chapadão já não estava uma maravilha, resolvemos dormir em Caçu/GO, certos que no dia seguinte ainda teríamos muita estrada ruim pela frente.

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