Ariquemes mostrou-se uma cidade surpreendentemente organizada. Passeios bem largos, ruas limpas, muito comércio chique na avenida principal (até uma loja da Dellano tinha por lá) e lanchonetes bem arrumadas. Quando restava alguma dúvida sobre a mão das vias, os próprios ciclistas ajudavam a esclarecer. Passeando a pé a noite, era fácil sentir-se como num shopping ao céu aberto, de tão uniformes e chamativas que eram as fachadas das lojas. Paramos para jantar num tal de Mr Mario, onde tomamos um caldo excelente e nos entupimos novamente de suco de laranja por menos de R$20 por cabeça.
Fizemos questão de visitar o Sr. Lírio (mais conhecido como Pica Pau), dono da pousada em que ficamos e reconhecido motociclista da região. Figura carismática, nos convidou para prosear já acendendo seu paioso. Para nosso alívio, tivemos a confirmação de que não precisaríamos levar galões de combustível extra até Cuiabá, pois a autonomia de nossas motos (perto de 200km) seria suficiente para cobrir os intervalos entre os postos da região.
Antes de sair da cidade, mais uma passada na Rondo Moto atrás do bendito filtro de ar e de um litro de óleo extra, já que minha moto tinha "bebido" isso de uma hora pra outra. Quão bela a surpresa ao encontrarmos profissionais que já conheciam Manaus e até mesmo Pará de Minas nessa oficina! Logo fomos apresentados pelo Claudinei (Buiú) pra equipe toda e também pro Mamute, presidente do MC BR-364 regional.
Apesar de ter custado a manhã inteira, essa parada na oficina foi excelente pra renovar o espírito motociclista que permeia essas empreitadas. Tão legal quanto botar a moto no asfalto é encontrar pessoas dispostas a ajudar, informar, trocar experiências (e causos) e até mesmo acompanhar os viajantes. E por falar em troca de experiência, soubemos pelo Mamute de um trecho fantástico após Vilhenas/RO, narrado mais ou menos assim.
Entrando a esquerda no sentido de Sapezal/MT, você andará não-sei-quantos-quilômetros até a entrada da aldeia dos índios. Lá, basta dar um troco pro pajé pra entrar nas terras deles e seguir por um trecho de areia. Não se preocupe que ela não afunda, dá pra ir tranquilo(!). O passeio é incrível! Vai passar por várias pontes, quedas de água, por cima do rio papagaio e conhecerá o lendário "asfalto branco" (nome devido ao transporte de cal realizado na região). Além disso tudo, economizará uns 200km na viagem até Cuiabá.
Após todo esse papo, pensamos em tentar compensar a frustação do dia anterior chegando em Vilhenas/RO. Porém a tarde já se anunciava e sabíamos que seria ingênuo manter essa esperança, ficando Vilhenas apenas como um objetivo "soft" por assim dizer. Algo como "pra se chegar na lua, mire em marte".
As chuvas iniciais foram muito fracas, não atrapalhando o andamento da viagem. Paramos pra abastecimento em Jaru/RO e depois em Ji-Paraná/RO, onde visitamos a autorizada Honda atrás do nosso difícil filtro, que infelizmente também não existia por lá. Pra compensar, o mecânico nos quebrou um galhão dando uma "assoprada" nos filtros velhos e conseguindo uma sobrevida considerável para os mesmos. Confesso que antes da limpeza com ar comprimido tinha dado como perda total a minha peça. Pra compensar essa ausência, a fauna regional se revelou nos fundos da oficina, onde um filhote de jacaré espreitava dentro do laguinho.
Partindo de Ji-Paraná até Cacoal/RO experimentamos o pior trecho da viagem. Muitos buracos, tráfego pesado e pista molhada. O receio era grande até pra ultrapassar em longas retas, já que os buracos na via contrária eram em ainda maior quantidade. Além disso, tráfego pesado em pista molhada é sinônimo de spray, o que prejudica ainda mais qualquer manobra de ultrapassagem e a antecipação de buracos pelos pilotos. Após todo esse estresse, paramos em Pimenta Bueno/RO, onde os relatos da chuva no sentido de Vilhenas nos convenceram sobre a estadia. Conversamos com o pessoal da autorizada local, que nos indicaram um lugar pra ficar e decidimos encerrar o dia por ali mesmo.