Tudo que escutava sobre o Rio quando morava em Minas ou mesmo no Amazonas era que esta é a cidade mais violenta do Brasil. Vemos nos noticiários ônibus em chamas, rebeliões nas cadeias, traficantes com armamento pesado nas favelas, comércio fechado por determinação do crime organizado, enfim, você brasileiro sabe do que estou falando. No post anterior o Milton contou que na chegada erramos o caminho e demos de cara com o Morro do Macaco. Nosso anfitrião Leandro disse que por onde passamos e no horário em que passamos, era deveras perigoso.
Mas, como temos colhões, resolvemos encarar a cidade como fazem os mais de 6 milhões de cariocas diariamente. Resolvemos passear de metrô e ônibus, parte por nunca termos andado de metrô e queríamos experimentar a praticidade do serviço, parte pelo coeficiente de cagaço ao andar novamente pela cidade sem conhecer o terreno e dar de cara novamente com uma favela com uma moto que faz mais barulho que o blindado do BOPE. O metrô do Rio deve ser um motivo de orgulho para os cariocas, pelo menos fora das horas de rush. O serviço é muito bom e com bastante facilidade, os caipiras aqui conseguiram chegar no pé do Corcovado, o primeiro ponto turístico que iríamos visitar no dia.
Estávamos com muita fome. Existem coisas que são "pra gringo ver" e o Cristo Redentor é uma delas, deduzimos que os restaurantes no alto da montanha seriam "pra gringo comer". Que sou eu para pagar módicos R$ 6,50 em um diminuto mixto-quente? Sabiamente resolvemos comer um Podrão antes de subir a montanha.
Normalmente o turista pode optar por subir o Corcovado pelo tradicional trenzinho ou se render ao assédio e chateação dos motoristas de van que ficam na porta da estação de trem oferecendo seus serviços. Maltrapilhos como sempre, ainda assim fomos bastante amolados pelos motoristas, que brigavam para nos ter como passageiros. Fico imaginando como seria se estivéssemos acompanhado no nosso grande amigo alemão Jonas.
Optamos pelo tradicional e fomos de trenzinho. Como disse, o Corcovado é coisa de gringo: R$ 36,00 para visitação não é um luxo que eu e o Milton, desempregados, pagaríamos sorrindo. Há uma lenda de quem é carioca tem um desconto neste preço - cheguei a ensaiar um "mermão, me vê doisss ingressosss" - mas a verdade que o desconto é dado apenas para os filiados ao Albergue da Juventude. Com o desconto (necessário apresentação da carteirinha e identidade), pagamos R$ 28,00 por cabeça. Após admirar a vista fantástica da Cidade Maravilhosa, voltamos no tranzinho escutando um samba (veja o vídeo) executado por músicos que trabalham no local.
Na volta ainda arrumamos tempo para conversar com um oficial da Guarda Municipal Turística do Rio de Janeiro. Me impressionou a prestatividade do policial e seus conhecimentos sobre a história do Rio. O mesmo nos levou para conhecer o Museu Internacional de Arte Naif do Brasil, que fica logo ao lado da estação.
Próxima parada: Pão de Açúcar. Pegamos um ônibus até o Botafogo Praia Shopping, onde descemos para sacar dinheiro, prevendo um preço salgado para o passeio de bondinho. Pitstop no Shopping para uma massagem nas costas em uma "ilha de massagem" que estava com preços promocionais. Feita a revisão mecânica da minha coluna, estou pronto para andar mais 5.000 Km sobre uma moto. Para terminar de relaxar, nada como beber um cappucino da Kopenhagen, vício que adquiri em Manaus.
Seguimos a pé até a Praia Vermelha (Urca), ponto de acesso ao bondinho. No caminho saboreamos a bonita paisagem, com belas contruções e o Pão de Açúcar ao fundo.
Decisão acertada de sacar dinheiro no shopping para visitar o Pão de Açúcar. A entrada custa R$ 35,00 e desta vez sem desconto para alberguistas. Tá difícil! Morremos até agora em R$70,00 só em ingresso e deslocamento... Pelo menos a infraestrutura é excelente, como a do Corcovado.
Noite caindo, hora de voltar pra casa. Pegamos novamente ônibus e metrô e por volta de 22h chegamos ao lar de nosso anfitrião Leandro, que já estava morrendo de preocupações (talvez não "morrendo", mas estava preocupado).
A idéia que eu tinha sobre o Rio mudou completamente. Como em toda cidade do Brasil, o segredo é não marcar bobeira. Posso estar enganado, mas não vi nenhum perigo em andar durante o dia pelos bairros em que passei. A cidade é realmente maravilhosa, mas ainda assim, a cena que ainda está na minha cabeça é a da favela que demos de cara na hora que chegamos. Realmente a primeira impressão é a que fica.