08Jan. Nesta data deixamos o asfalto de lado e usamos o rio como via. Dia de conhecer o tão falado delta do Parnaíba.
Na mesma manhã tive um sonho muito esquisito. Sonhei que descia de algo parecido com um barco pra comprar provisões e o desgraçado me abandonava na ilha quase deserta - só com uns comerciantes em seus flutuantes - e por pouco não me atropelava na manobra (detalhe, ele derrapou em terra firme antes de entrar no rio (!)). Quando comecei a negociar com uma voadeira pra me levar, o despertador toca. Pouco tempo depois o Thiago descobre que faltavam vinte minutos pra excursão sair!
Chegamos em cima do horário na agência, mas no caminho de lá até o estacionamento da van, perdemos a nossa condução. Por sorte, uma turma de Rondônia estava saindo pro mesmo barco e nos ofereceu carona, junto do comandante da embarcação (garantia de que o barco não sairia sem a gente, hehehe).
A van atravessou uma ponte e andou mais uns dez quilômetros, cruzando uma cidadezinha antes de chegar ao porto. Uma curiosidade explicada pelo guia-comandante, um pedaço grande dessa cidade está ameaçado de extinção, pois as dunas, movidas pelos ventos alísios, avançam sem parar pela região.
Mas, afinal, o que é esse tal de delta? Como gentilmente explicado pelo locutor de nosso passeio, o delta é uma formação rara na natureza, onde a foz de um rio se ramifica em leque, formando vários canais e ilhotas antes de desaguar. Existem somente três deltas que dão em mar aberto no mundo (Nilo, Parnaíba e um lá no Vietnam).
No caso do Parnaíba, existe um fator navegacional interessante, que obriga o timoneiro a usar referências visuais (árvores) para guiar a embarcação, já que os canais mudam frequentemente de formato, tornando a paisagem mutante.
Enquanto passeávamos, vários canoeiros trabalhavam na coleta do
caranguejo, cuja maior parte é enviada pra fora de Parnaíba
(principalmente Fortaleza/CE). A coleta de caranguejo, criação de
camarão e extração de extratos vegetais são as principais atividades da
região, junto do turismo. Destaque para o trabalho de preservação
ambiental implantado na região, que salvou a espécie da extinção local e
educou os ribeirinhos sobre a necessidade de respeitar o meio-ambiente
para a própria sobrevivência.
A primeira parada foi numa ilhota, pra demonstrar a coleta do
caranguejo e aproveitar um banho rápido num igarapé próximo. Na volta
pro barco, o Thiago consegue cair num barranco e afundar na água até o
pescoço, só pra testar se tinha buraco mesmo no lugar que o barco
ancorou.
O passeio foi muito bem organizado. Todos os pontos importantes eram
narrados, os horários de alimentação respeitados e havia um bar a
disposição dos passageiros no deck principal. Parabéns pra dona Maria,
cozinheira da embarcação, que mostrou o quanto é possível servir uma
comida boa enquanto se navega. O peixe à delícia acabou com nosso trauma
adquirido no Amazon Star (Manaus/AM-Belém/PA).
Continuando a expedição, nos infiltraríamos nos canais menores pra alcançar mais uma parte de duna, onde seria servida caranguejada ao povo do barco. Alguns caminhos eram bem apertados, lembrando um pouco o estreito de Breves, na travessia Manaus/AM-Belém/PA, só que numa magnitude bem menor e de dia.
Sem fome por causa do exagero na hora do peixe à delícia, resolvemos
tirar um cochilo durante a caranguejada. No meio da tarde, já estávamos
de volta ao porto, onde ganhamos condução até a porta da pousada, sem
problemas. Hora de consertar a moto do Thiago e atualizar o blog até
onde der.